FELICIDADE
Alberto Carlos
Paschoaletto
INTRODUÇÃO
Dialogar a felicidade é um desafio de longa data e
contextualiza-la nos tempos atuais é o objetivo desse artigo. A felicidade,
cada vez mais incipiente, no contemporâneo, se transforma objeto de desejo. Um
fim para ser alcançado a qualquer preço: concorre, ela, com mídias de comunicação
de massa que, essas, alienadas, travestem seu significado em objeto de desejo alcançável
pela competição (do trabalhar mais para pagar) e da sedução (do adquirir mais
para ser e mostrar que é o melhor). Resultado: FELICIDADE UM PRÊMIO A QUALQUER
PREÇO! Neste sentido a felicidade, distorcida, é um fim em si mesma e, a vida, um
meio que perde seu valor e desce o indivíduo para um nível de sobrevivência,
pois gera um ciclo vicioso num cenário de campo de batalha: Consumir por
merecer X Ser feliz por consumir. É a troca da virtude corrompida pela viciação
dos hábitos não saudáveis e do ponto de vista filosófico: do esvaziamento da
essência do significado existencial. Muitos atenuam suas frustrações no prazer
momentâneo da conquista do objeto desejado, mas, não percebem que o fazem para preencher
lacunas de uma realidade, cada vez mais virtual e vazia, e caem nos vieses dos
pecados da gula, avareza, luxúria, preguiça, ira, soberba, inveja, para
compensar a iminente escravidão moderna. Todos esses pecados, capitais, se entrelaçam
ao mesmo fim: Excesso de beleza exterior para encobrir o buraco negro do
esvaziamento existencial! Nesse paradoxo entre fim e meio, dos corações e vidas
desperdiçadas, as pessoas buscam conteúdo material acessível nas objetividades
do consumo e, preenchem, como se fossem droga, o vazio existencial. Quiçá,
pessoas preenchidas interiormente pelos sentimentos filosóficos, e, espiritualmente
elevadas se descobrem FELIZES quando percebem que passam por provações nas suas
vidas, porque descobrem que uma vida perfeita, como veiculada nos anúncios da
propaganda e nos merchandisings das novelas simplesmente não existe!
DESENVOLVIMENTO:
1. Na plataforma antropológica-filosófica a
respeito do imanente que se abre ao transcendente eis a questão chave: Existe relação
entre a Virtude e Felicidade? E, se sim, quais suas relações para uma lição de
vida?
Para Sócrates, a virtude nada é senão um meio para obter coisas
boas (prazerosas) e, consequentemente, a felicidade se sustenta na ideia de que
a virtude está presente em todos os discursos do espírito que eleva o homem ao
status de sábio e sensível, imanente da felicidade; dessa forma, chega-se à
tese da identidade entre virtude e felicidade.
A felicidade não requer poder de compra adicionada à virtude, e, em
todos os casos, o homem sábio, independentemente da riqueza, é mais
bem-sucedido que o ignorante (Platão); que se deixa levar no discurso sedutor
da comunicação massificada. Nesse sentido a sabedoria genuína (moral socrática)
nunca erra, é sempre bem-sucedida; A sabedoria pode ser vista como condição
necessária e suficiente para a felicidade. A sabedoria é necessária e suficiente
para o uso correto e bem-sucedido das coisas: A sabedoria é o único bem e a
ignorância é o único mal (Platão).
2.
Na plataforma de cunho teológico, a relação do homem existencialmente,
temporalmente e espacialmente situado no mundo com o transcendente, ou numa
linguagem religiosa, pode-se falar numa relação de partner entre a criatura e o seu Criador, o “Totalmente Outro”.
CONCLUSÃO
Pois então, uma
pergunta: O que fazer para ser feliz?
Filosoficamente é muito simples. É maravilhar-se com a vida e os
seus milagres cotidianos, como o nascer do sol num dia de primavera, de intenso
céu azul ou o se pôr no entardecer de rubro arrebol de uma tarde de outono: -
máxima expressão da felicidade! Até porque a felicidade não é um fim, competição
para alcançar a qualquer preço, aliás, filosoficamente não tem preço. Ela é próprio
caminho do dia a dia e na correria do cotidiano,
ora competitivo, não se consegue ver e sentir, pois está na imanência que
transcende para interpretar e valorizar o sorriso de um amigo, o sol ou a chuva que te espera quando levanta da cama.
Pense bem: O primeiro passo para perceber a felicidade é o fato de
parar para meditar a existência, enfim, fazer uma leitura do ser e estar vivo,
porque nossa vida é nosso bem mais precioso. A nossa vida é o verdadeiro milagre: SEJA FELIZ, SIMPLES ASSIM! Eu
digo isso com a experiência dos meus 47 anos e das 3 pontes que foram colocadas
em meu coração. Por isso, conserve ou reencontre a inocência da juventude que
nos fez maravilhar-nos por quase nada. Se a conservarmos, teremos sempre a
chama da esperança que nos fará concretizar nossos objetivos enquanto
percorremos nossa jornada existencial. Devemos maravilhar-nos com todas as
manifestações da vida, dos seres humanos, dos animais, das plantas, que são
também uma das múltiplas formas de vida. Para refletir, conclusivamente, sobre
os dois lados do mundo:
Você é um daqueles a
quem se chama feliz? Pois bem, você está triste todos os dias. Cada dia tem uma
grande amargura e um pequeno cuidado. Ontem tremia pela saúde de alguém que é
caro, hoje receia pela sua; amanhã será uma inquietação de dinheiro, depois a
diatribe de um caluniador ou a infelicidade de um amigo, mais tarde o mau tempo
que faz, qualquer coisa que se quebrou ou se perdeu, uma vez um prazer que a
sua consciência e a coluna vertebral reprovam, outra vez a marcha dos negócios
públicos. Isto sem contar as penas de coração. E assim sucessivamente. Uma
nuvem que se dissipa e outra que se forma logo. Apenas um dia em cem de plena
felicidade e cheio de sol.
E sois desse pequeno número que é feliz!
Quanto aos outros homens, envolve-os a noite estagnante.
Os espíritos refletidos usam pouco desta
locução: os felizes e os infelizes. Neste mundo, evidentemente vestíbulo de
outro, não há felizes.
A verdadeira divisão humana é esta: os
iluminados e os tenebrosos. (Os miseráveis, de Vitor Hugo).
Finalmente, devemos maravilhar-nos com o nascer e o pôr do sol,
com uma flor, uma bela paisagem, uma corrente de água. Iluminados para Conservar
a inocência de uma criança para possibilitar fluir as energias positivas dentro
de nós à nossa volta.
Por Alberto Carlos Paschoaletto
Comentários
Postar um comentário