Esta é a Ana.

Ana é parte da Geração Y, a geração
de jovens nascidos entre o fim da década de 1970 e a metade da década de 1990.
Ela também faz parte da cultura Yuppie, que
representa uma grande parte da geração Y.
“Yuppie” é uma derivação da sigla “YUP”,
expressão inglesa que significa “Young Urban Professional”, ou seja, Jovem
Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20
e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a
classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação
universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas
tendências da moda. – Wikipedia
Eu dou um nome para yuppies da geração Y — costumo chamá-los de “Yuppies
Especiais e Protagonistas da Geração Y”, ou “GYPSY” (Gen Y Protagonists &
Special Yuppies). Um GYPSY é um tipo especial de yuppie, um tipo que se acha o
personagem principal de uma história muito importante.
Então Ana está lá, curtindo sua vida de GYPSY, e ela gosta muito de ser
a Ana. Só tem uma pequena coisinha atrapalhando:
Ana está meio infeliz.
Para entender a fundo o porquê de tal infelicidade, antes precisamos
definir o que faz uma pessoa feliz, ou infeliz. É uma formula simples:

É muito simples — quando a realidade da vida de alguém está melhor do
que essa pessoa estava esperando, ela está feliz. Quando a realidade acaba
sendo pior do que as expectativas, essa pessoa está infeliz.
Para contextualizar melhor, vamos falar um pouco dos pais da Ana:

Os pais da Ana nasceram na década de 1950 — eles
são “Baby
Boomers“. Foram criados pelos avós da Ana, nascidos entre 1901 e 1924, e
definitivamente não são GYPSYs.

Na época dos avós da Ana, eles eram obcecados com estabilidade econômica
e criaram os pais dela para construir carreiras seguras e estáveis. Eles
queriam que a grama dos pais dela crescesse mais verde e bonita do que eles as
deles próprios. Algo assim:

Eles foram ensinados que nada podia os impedir de conseguir um gramado
verde e exuberante em suas carreiras, mas que eles teriam que dedicar anos de
trabalho duro para fazer isso acontecer.

Depois da fase de hippies insofríveis, os pais da Ana embarcaram em suas
carreiras. Então nos anos 1970, 1980 e 1990, o mundo entrou numa era sem
precedentes de prosperidade econômica. Os pais da Ana se saíram melhores do que
esperavam, isso os deixou satisfeitos e otimistas.

Tendo uma vida mais suave e positiva do que seus próprios pais, os pais
da Ana a criaram com um senso de otimismo e possibilidades infinitas. E eles
não estavam sozinhos. Baby Boomers em todo o país e no mundo inteiro ensinaram
seus filhos da geração Y que eles poderiam ser o que quisessem ser, induzindo
assim a uma identidade de protagonista especial lá em seus sub-conscientes.
Isso deixou os GYPSYs se sentindo tremendamente esperançosos em relação
à suas carreiras, ao ponto de aquele gramado verde de estabilidade e
prosperidade, tão sonhado por seus pais, não ser mais suficiente. O gramado
digno de um GYPSY também devia ter flores.

Isso nos leva ao primeiro fato sobre GYPSYs:
GYPSYs são ferozmente ambiciosos

O GYPSY precisa de muito mais de sua carreira do que somente um gramado
verde de prosperidade e estabilidade. O fato é, só um gramado verde não é lá
tão único e extraordinário para um GYPSY. Enquanto seus pais queriam viver o
sonho da prosperidade, os GYPSYs agora querem viver seu próprio sonho.
Cal Newport aponta que “seguir seu sonho” é uma frase que só apareceu
nos últimos 20 anos, de acordo com o Ngram Viewer, uma ferramenta do Google que
mostra quanto uma determinada frase aparece em textos impressos num certo
período de tempo. Essa mesma ferramenta mostra que a frase “carreira estável”
saiu de moda, e também que a frase “realização profissional” está muito
popular.


Para resumir, GYPSYs também querem prosperidade econômica assim como
seus pais – eles só querem também se sentir realizados em suas carreiras, uma
coisa que seus pais não pensavam muito.
Mas outra coisa está acontecendo. Enquanto os objetivos de carreira da
geração Y se tornaram muito mais específicos e ambiciosos, uma segunda ideia
foi ensinada à Ana durante toda sua infância:

Este é provavelmente uma boa hora para falar do nosso segundo fato sobre
os GYPSYs:
GYPSYs vivem uma ilusão
Na cabeça de Ana passa o seguinte pensamento: “mas é claro… todo mundo
vai ter uma boa carreira, mas como eu sou prodigiosamente magnífica, de um
jeito fora do comum, minha vida profissional vai se destacar na multidão”.
Então se uma geração inteira tem como objetivo um gramado verde e com flores,
cada indivíduo GYPSY acaba pensando que está predestinado a ter algo ainda
melhor:
Um unicórnio reluzente pairando sobre um gramado florido.

Mas por que isso é uma ilusão? Por que isso é o que cada GYPSY pensa, o
que põe em xeque a definição de especial:
es-pe-ci-al | adjetivo
melhor, maior, ou de algum modo
diferente do que é comum
melhor, maior, ou de algum modo
diferente do que é comum
De acordo com esta definição, a maioria das pessoas não são especiais,
ou então “especial” não significaria nada.
Mesmo depois disso, os GYPSYs lendo isto estão pensando, “bom argumento…
mas eu realmente sou um desses poucos especiais” – e aí está o problema.
Uma outra ilusão é montada pelos GYPSYs quando eles adentram o mercado
de trabalho. Enquanto os pais da Ana acreditavam que muitos anos de trabalho
duro eventualmente os renderiam uma grande carreira, Ana acredita que uma
grande carreira é um destino óbvio e natural para alguém tão excepcional como
ela, e para ela é só questão de tempo e escolher qual caminho seguir. Suas
expectativas pré-trabalho são mais ou menos assim:

Infelizmente, o mundo não é um lugar tão fácil assim, e curiosamente
carreiras tendem a ser muito difíceis. Grandes carreiras consomem anos de
sangue, suor e lágrimas para se construir – mesmo aquelas sem flores e
unicórnios – e mesmo as pessoas mais bem sucedidas raramente vão estar fazendo
algo grande e importante nos seus vinte e poucos anos.
Mas os GYPSYs não vão apenas aceitar isso tão facilmente.
Paul Harvey, um professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados
Unidos, e expert em GYPSYs, fez uma pesquisa onde conclui que a geração Y tem
“expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas
negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”. Ele diz que “uma grande fonte
de frustrações de pessoas com forte senso de grandeza são as expectativas não
alcançadas. Elas geralmente se sentem merecedoras de respeito e recompensa que
não estão de acordo com seus níveis de habilidade e esforço, e talvez não
obtenham o nível de respeito e recompensa que estão esperando”.
Para aqueles contratando membros da geração Y, Harvey sugere fazer a
seguinte pergunta durante uma entrevista de emprego: “Você geralmente se sente
superior aos seus colegas de trabalho/faculdade, e se sim, por quê?”. Ele diz
que “se o candidato responde sim para a primeira parte mas se enrola com o
porquê, talvez haja um senso inflado de grandeza. Isso é por que a percepção da
grandeza é geralmente baseada num senso infundado de superioridade e
merecimento. Eles são levados a acreditar, talvez por causa dos constantes e
ávidos exercícios de construção de auto-estima durante a infância, que eles são
de alguma maneira especiais, mas na maioria das vezes faltam justificativas
reais para essa convicção”.
E como o mundo real considera o merecimento um fator importante, depois
de alguns anos de formada, Ana se econtra aqui:

A extrema ambição de Ana, combinada com a arrogância, fruto da ilusão
sobre quem ela realmente é, faz ela ter expectativas extremamente altas, mesmo
sobre os primeiros anos após a saída da faculdade. Mas a realidade não condiz
com suas expectativas, deixando o resultado da equação “realidade –
expectativas = felicidade” no negativo.
E a coisa só piora. Além disso tudo, os GYPSYs tem um outro problema,
que se aplica a toda sua geração:
GYPSYs estão sendo atormentados
Obviamente, alguns colegas de classe dos pais da Ana, da época do ensino
médio ou da faculdade, acabaram sendo mais bem-sucedidos do que eles. E embora
eles tenham ouvido falar algo sobre seus colegas de tempos em tempos, através
de esporádicas conversas, na maior parte do tempo eles não sabiam realmente o
que estava se passando na carreira das outras pessoas.
A Ana, por outro lado, se vê constantemente atormentada por um fenômeno
moderno: Compartilhamento de Fotos no Facebook.
As redes sociais criam um mundo para a Ana onde: A) tudo o que as outras
pessoas estão fazendo é público e visível à todos, B) a maioria das pessoas
expõe uma versão maquiada e melhorada de si mesmos e de suas realidades, e C)
as pessoas que expôe mais suas carreiras (ou relacionamentos) são as pessoas
que estão indo melhor, enquanto as pessoas que estão tendo dificuldades tendem
a não expor sua situação. Isso faz Ana achar, erroneamente, que todas as outras
pessoas estão indo super bem em suas vidas, só piorando seu tormento.

Então é por isso que Ana está infeliz, ou pelo menos, se sentindo um
pouco frustrada e insatisfeita. Na verdade, seu início de carreira
provavelmente está indo muito bem, mas mesmo assim, ela se sente desapontada.
Aqui vão meus conselhos para Ana:
1) Continue ferozmente ambiciosa. O
mundo atual está borbulhando de oportunidades para pessoas ambiciosas
conseguirem sucesso e realização profissional. O caminho específico ainda pode
estar incerto, mas ele vai se acertar com o tempo, apenas entre de cabeça em
algo que você goste.
2) Pare de pensar que você é especial. O
fato é que, neste momento, você não é especial. Você é outro jovem profissional
inexperiente que não tem muito para oferecer ainda. Você pode se tornar
especial trabalhando duro por bastante tempo.
3) Ignore todas as outras pessoas. Essa
impressão de que o gramado do vizinho sempre é mais verde não é de hoje, mas no
mundo da auto-afirmação via redes sociais em que vivemos, o gramado do vizinho
parece um campo florido maravilhoso. A verdade é que todas as outras pessoas
estão igualmente indecisas, duvidando de si mesmas, e frustradas, assim como
você, e se você apenas se dedicar às suas coisas, você nunca terá razão pra
invejar os outros.
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